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Há algumas décadas pudemos perceber o insurgir de certas tendências teológicas que buscavam associar a mensagem do Evangelho aos ideais socialistas, a justiça para com os pobres e oprimidos nas Escrituras à teoria da luta de classes, e o Reino pregado por Nosso Senhor Jesus Cristo ao ideal de sociedade Marxista.
Felizmente, ultimamente, tais tendências se mostram cada dia mais agonizantes, tanto pelas suas incoerências filosóficas, históricas e teológicas, quanto pela sua incapacidade de levar o alimento que não perece, sustento do qual tanto carecem as sociedades da pós-modernidade.
Não obstante seja essa a atual situação, ainda podemos perceber e vislumbrar a existência de defensores obstinados dessas teologias, esses teimam (espero que em vão) em tentar manter vivos os ramos decrépitos de uma árvore cujos frutos são venenosos.
As contradições entre o cristianismo e o marxismo, além de numerosas são basilares e que, de longe, podem ser percebidas. Contudo, as oposições cruciais e menos “artificiais” entre os dois, muitas vezes, não estão no âmbito superficial, mas irão requerer uma reflexão mais profunda e ampla.
Como exemplo, podemos tomar a própria obra “O Manifesto Comunista” (autoria de Marx e Engels), a qual, na sua segunda parte (Proletários e Comunistas) o autor elenca as principais acusações que são fulminadas contra os comunistas, e uma da qual ele não irá esquivá-los, mas, ao contrário, justificar, é a de que eles desejariam extirpar da sociedade a religião, a moral e as verdades eternas (liberdade, justiça, dignidade humana, etc.), com o objetivo de minar as bases da luta de classes e edificar, “do zero”, uma nova sociedade.
Muitas vezes, a crítica ao marxismo parte do ponto de que ele se opõe à religião, eu, contudo, prefiro partir daquilo que pode ser visto como uma conclusão: o marxismo é contra a humanidade. A partir daí, podemos mostrar que, por consequência, tal filosofia política seria também contra a religião, a cultura, a crença em Deus, os valores éticos e morais, os direitos humanos, e tantos elementos pelos quais muito prezamos.
É importante, portanto, esclarecer que o marxismo é uma filosofia ateia, e, como afirmou Olavo de Carvalho fazendo citação do Prof. Rudolf Joseph Hummel: “os movimentos ateísticos, em duas ou três décadas, mataram mais gente do que todas as guerras de religião haviam matado em todo o orbe terrestre desde o início dos tempos. O ateísmo militante surge como ideologia assassina sim! Isso é um fato que ninguém pode negar”, o marxismo parece, portanto ser genocida “por vocação”, além disso, o é também por história comprovada, e mais uma vez recorro às precisas palavras de Olavo de Carvalho: “você me mostre alguma religião [...] que, no curso de poucas décadas, tenha mandado matar 100 milhões de pessoas, como fez o comunismo. Ora, 100 milhões, vamos dizer, foi o cálculo conservador.[...] Na verdade foi muito mais. [...] Somente na China, o governo matou 75 milhões de pessoas em tempo de paz. 75 milhões de pessoas no seu próprio território, da sua própria população, por motivo de crença”.
Portanto, a oposição do marxismo à religião não passa simplesmente pelo conceito de uma simples rixa anticlerical, mas sim, por uma fundamentação doutrinária contra a humanidade e tudo o que lhe é peculiar, e nada mais humano que a religião, pois ela é o elemento que mais lhe concede a consciência da sua tão alta dignidade, além de seu alcance transcendente.
Gosto da definição, não a nível taxonômico, claro, mas a nível filosófico, que Chesterton dá ou ser humano: “um animal que fabrica dogmas”, isso, para mostrar o quanto a religiosidade é intrínseca ao homem. E Chesterton, no seu debate com o cético Clarence Darrow, ainda falou contra aqueles que têm um preconceito cego para com a religião: “Toda vez que ouço que o homem é inteligente demais para acreditar, é como ouvir que um prego é bom demais para pregar um carpete, ou que um ferrolho é forte demais para manter uma porta fechada”.
Ainda é importante ressaltar que, sob o falso pretexto de que o proletariado não possui cultura, mas apenas a burguesia a tem, e, por isso, ele nada teria a perder, “O Manifesto Comunista” propõe o fim, a destruição da cultura. Mas o que seria a cultura senão o produto da interação social? Ou até mesmo, tudo aquilo que o homem faz que o diferencie dos outros animais? A cultura é, portanto, produto exclusivo da razão. Tão logo, o marxismo, mais uma vez, se mostra contra a humanidade por ser avesso à razão, à cultura e à “humanização” (em contraste com animalização) do próprio homem. Por isso, além de inviável (é uma proposta praticamente impossível de ser executada integralmente), tal filosofia é, para a humanidade, auto-degenerativa.
Outro ponto de fundamental importância quando o assunto é o veneno dos comunistas, é o da família. Seguindo a mesma linha de raciocínio que usara para a cultura, “O Manifesto Comunista também propôs o fim da instituição familiar, alegando que além de ela ter se tornado algo exclusivo da burguesia (o que é claramente falso), ela ainda foi, pela referida classe, corrompida e reduzida a relações de dinheiro: “A burguesia rasgou o véu de sentimentalismo que envolvia as relações de família e reduziu-as a simples relações monetárias”(O Manifesto Comunista). A partir disso, ao invés de propor um reestabelecimento dos nobilíssimos valores familiares, os comunistas preferem abolir com a família, dando a perceber que o fato de criticarem a perversão das relações familiares não passa de um pretexto para destruir a mesma.
Atacar a família é investir contra a célula matriz da sociedade, tanto do ponto de vista biológico, visto que é a família que consiste na via ordinária (moral) para perpetuação do gênero humano; mas também do ponto de vista cultural, pois é ela o meio onde se formará o ser humano como ser ético e depósito de certos valores que o comunismo tanto deseja destruir.
Alguns defensores de Marx irão alegar, como já o fizeram, que isso não passa de uma interpretação extremista de cristãos espantados, justificando que Marx constituíra família e tivera um bom relacionamento com mulher e filhos. Para mim, isso, de modo algum, melhora o meu parecer a respeito de Karl Marx, pois ou ele tinha a consciência de estar fazendo o que é correto, mas seu discurso estava carregedo de mentiras, erros e falsidades, ou ele, embora acreditasse no que pregava, levava uma vida em dissonância com a sua teoria. Tais leviandade ou mediocridade, o que quer que seja, não me fazem ver Marx como meio-certo, mas como um completo errado pela clara e berrante incoerência entre sua vida e seu ensinamento. Eu poderia me alongar mais, contudo acredito que o que foi exposto já é suficiente para fundamentar alguma reflexão que critique contundentemente a tentativa de associar o cristianismo ao marxismo.
Vejamos, portanto, que é absurda qualquer tentativa de se encontrar uma intersecção entre os interesses do cristianismo e do marxismo. Isso, porque o primeiro sempre se portou como custódio da humanidade, oásis de fé e razão onde a civilização ocidental pôde produzir seus melhores frutos, enquanto o segundo, desde seu início, agiu como uma infecção que, ao se espalhar, foi degradando a saúde moral da sociedade em seus vários pontos vitais, destruindo tudo aquilo que, a tanto custo, a cristandade edificou, a humanidade conquistou.
Não nos deixemos levar pelas belas palavras de um ateísmo maquiado de cristianismo, eles querem nos atacar de dentro, por isso, fiquemos alerta para não aceitarmos um cavalo de Tróia como um belo presente dos marxistas.
Por: Seminarista José Vila Nova
(Arquidiocese de Olinda e Recife)